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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Vidas Secas (Graciliano Ramos)

   Análise do livro

    Vidas Secas (Graciliano Ramos) - 
por Roberto Bíscaro e Victor César


1) Contexto: - até a primeira metade do século XX, a literatura era atrelada aos ideais parnasianos;
- o Parnasianismo, escola literária pertencente ao século XIX, tinha a forma em detrimento do tema (exemplo: poemas formalmente perfeitos, versos decassílabos, vocabulário complexo; principais nomes: Olavo Bilac - poesia, Coelho Neto – prosa x Modernismo: combate ao parnasianismo e o seu academicismo);

 - o Modernismo, escola literária do século XIX, que foi um movimento revolucionário que combateu o academicismo (estética e ideologia) parnasiano; precedida pelo Pré-Modernismo, que foi a fase precursora e a que iniciou o combate ao parnasiano (autores importantes: Lima Barreto, Monteiro Lobato e Euclydes da Cunha
); o Modernismo no Brasil dividiu-se em três fases, porém interessa-nos até a segunda, que é a fase correspondente à obra;

* Primeira fase (1922-1930): - também conhecida como fase heroica; - propagação das ideias modernistas; - combate estético e ideológico ao parnasianismo (formas tradicionais/ academicismo) / inovação formal; - principais nomes: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado; Ao concretizar-se o processo de quebra com o parnasianismo, inicia-se então a inovação temática criticista dando inicio a Segunda Fase;

* Segunda Fase (1930-1945): - também conhecida como fase regionalista; - europeização do Brasil (exemplo: 1905 – reconstrução do Rio de Janeiro em moldes de Paris); - o desenvolvimento econômico e europeização ocorriam apenas entre a alta burguesia e a classe média urbana; - Brasil, em 1930, tinha como contexto socioeconômico: Quebra da Bolsa de Valores de 1929; Revolução Populista (Getúlio Vargas); dicotomia econômica e social; - Governo Getúlio Vargas (Estado Novo ou Ditadura de Vargas), tinha como base o nacionalismo exaltado; logo, europeização se dá paralelamente ao culto à identidade nacional; crescente desenvolvimento da economia (porém essa renda destinou-se apenas à burguesia), devido à Quebra da Bolsa de Valores, de 1929, de Nova Iorque e os investimentos de Vargas na indústria de base;
2) O livro: -a obra retrata a vida de uma família do nordeste, que sofre devido à seca, porém não há um local definido onde se ocorre; - personagens: Fabiano, pai e vaqueiro; Sinha Vitória (percebe-se que a falta de acentuação gráfica em Sinhá remete à inferioridade da posição desta); filho mais velho e filho mais novo em contrapartida de análise da cadelinha Baleia (zoomorfização dos filhos devido à ausência de nome, e a antropomorfização da cachorra, que têm nome e sentimentos na obra / o nome Baleia, remete a um animal que vive em um ambiente com abundância de água, e a cachorra habitava um ambiente com escassez de água); - o título, apresenta antíteses, em dois pontos. Primeiro: a seca traduz ideia de ausência de vigor; o que remete a vidas sem condições mínimas de existência. Segundo: remete a famílias que sobreviviam sem as condições mínimas de existência; - exploração do homem pelo estado (marginalização das pessoas pela sociedade e pelo estado); - os capítulos do livro são independentes, portanto, não há a necessidade de uma leitura linear da obra; - o livro apresenta uma ideia cíclica durante suas narrativas, para representar que esse processo da seca e exploração do homem pelo estado era contínuo e não passageiro; isso tem, por exemplo: o primeiro capítulo (“Mudança”) e o último (“Fuga”), apresentarem o mesmo tema; e o sonho do filho mais novo ser como Fabiano; - o narrador, é onisciente (isso pode ter se dado devido à falta de uma linguagem sofisticada nos personagens, já que no livro, em muitas das vezes comunicam-se por grunhidos); - presença de discurso indireto livre, que é a presença do pensamento do personagem dentro do discurso do narrador (obs.: não dá para se saber quem é o emissor do pensamento ou discurso, quando este recurso estilístico é empregado); - A cachorra Baleia não é a narradora;

3)Observações:
1 - obra: Os Sertões, de Euclydes da Cunha; apresenta a mesma temática do livro, porém com lugar de ocorrência definido; retrata a revolta de Canudos. Na concepção dos dois autores o sertanejo é um homem forte, por conseguir sobrevir sem as mínimas condições de sobrevivência.
2 - obra: O Quinze, de Rachel de Queirós; retrata a seca de 1914, temporalizada e com lugar de ocorrência definido; assim, os dois livros apresentam a mesma temática.

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